segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mais um conto

Leo ja tinha 92 anos, e estava deitado em sua cama aguardando que os anjos o levassem. Ao seu lado, Karol, com 90, fora sua esposa durante toda a vida.

Leo fitou Karol. Em nada lembrava aquela menina magrinha e mirrada que conhecera há quase setenta primaveras. Mas o peso da idade e as rugas não tiravam a beleza que ele sempre viu em sua esposa. Aliás, ela estava mais bela do que nunca.

Fechou os olhos e se lembrou de como foi difícil o começo no Brasil. Ela era uma estudante de fisioterapia. Ele estudava jornalismo, mas tinha uma forte queda pelas artes. Seu sonho era ser ator e músico. Tinha uma banda em sua cidade natal que já estava se encaminhando para o sucesso. Mas um dia teve de escolher entre abandonar sua carreira ou abandonar Karol. O tempo lhe provou que fizera a escolha certa.

Lembrou-se também de seu casamento, de seu primeiro apartamento, num bairro de classe média de Curitiba, onde tiveram José, seu filho. Recordou-se de como a vida fora dura no começo, de que seus amigos diziam para que ele abandonasse seu amor, que as voltas do mundo e as dificuldades da vida os impediriam de ficar juntos.

O problema é que eles nunca souberam que algo mais forte do que o próprio amor os unia, e as voltas do mundo serviram apenas para fortalecer seus laços.

Ela também foi uma grande fisioterapeuta. Ele recomeçou sua carreira de músico, fez sucesso. Viveu de música como sempre sonhara. Já mais velhos, ele com 70 e ela com 67 anos, se mudaram para a Suíça, sonho que dividiam desde os tempos da mocidade. Foram, mas não sem antes conhecer sua primeira netinha, que mais tarde fora o orgulho dos avós.

Abriu os olhos, fitou sua amada mais uma vez. Com um breve aceno, feito com dificuldade, chamou-a ao pé da cama. Susurrou-lhe nos ouvidos:

"Eu consegui? Eu te fiz feliz?"

Com a voz embargada e com água nos olhos, Karol lhe respondeu:

"Sempre, meu amor, você sempre conseguiu tudo o que quis! E eu, te fiz feliz?"

Leo abriu um sorriso, mas não houve tempo para resposta. Fechou os olhos para nunca mais abrí-los novamente. Mas seu sorriso falava por ele: Jogara seu sonho fora, arriscara tudo por um amor. Deu certo. Fora muito feliz durante toda a sua vida.

Karol morreu dois anos após tornar-se centenária. Conheceu seu bisneto e fora feliz por seu amado, enquanto esperava para se juntar a ele. A hora finalmente chegara.

Fora enterrada ao lado dele. No túmulo a seguinte inscrição:

"Aqui jaz um casal cujo amor fora tão forte que nem mesmo a morte conseguiu separá-los."

E logo abaixo, em letras de bronze, uma antiga brincadeira que Leo e Karol tinham entre eles, uma sigla:

"SJ"*.


*Não vou dizer o significado da sigla, que fique ao vosso critério

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Janis Joplin - Summertime



Summertime, time, time,
Child, the living's easy.
Fish are jumping out
And the cotton, Lord,
Cotton's high, Lord, so high.

Your daddy's rich
And your ma is so good-looking, baby.
She's looking good now,
Hush, baby, baby, baby, baby, baby,
No, no, no, no, don't you cry.
Don't you cry!

One of these mornings
You're gonna rise, rise up singing,
You're gonna spread your wings,
Child, and take, take to the sky,
Lord, the sky.

Until that morning
Honey, n-n-nothing's going to harm you now,
No, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no,
No, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no,
No, no, no, no, no, no, no, no, no,
Don't you cry,
Don't you cry,
Cry.

Época De Verão
Época de verão
Criança, a vida é fácil
Os peixes pulando fora d'àgua
E o algodão, Senhor,
O algodão está alto, Senhor, tão alto.

Seu pai é rico
E sua mãe é de tão boa aparência
Ela parece bem agora
Calma, baby, baby, baby, baby, baby,
Não, não, não, não, não chore
Não chore!

Em uma destas manhãs
Você estará crescendo, cantando animado
Você estará alargando as suas asas,
Criança, e alcançar, alcançar o céu,
Senhor, o céu.

Mas ate esta manhã
Querida, nada vai te causando alarde,
Não, não, não, não, não, não, não, não.....
não
não
Não Chore.
Não Chore.
Chore.

Sobre traumas, medos e pesadelos

Um carro sozinho na estrada.

Dentro deles uma família: Pai, Mãe, Filho, Filha e o seu respectivo namorado.

Era uma madrugada fria de dezembro. A família ia ao encontro de parentes para celebrar o Natal na cidade vizinha.

No sentido contrário vinha um caminhão. O motorista, já exausto por tantas horas dirigindo, se sentia solitário ouvindo no rádio musicas antigas e lentas.

No Km 105, o breu da estrada, o cheiro de floresta que emanava da floresta que cercava a via e as musicas antigas embaralhavam a sua vista. Dormiu.

E foi bem ali, no Km 105, que o caminhão encontrou o antigo Gol branco. O namorado acorda assustado, e vê o lugar onde está sendo esmagado contra uma parede. De repente, o parachoque do caminhão se desprende parcialmente e entra no carro. Ele vê seu sogro e sua sogra tendo suas cabeças arrancadas do pescoço. Vê o mesmo parachoque desmembrando sua namorada como se fosse uma faca cortando um pedaço de pão, e sente esse pedaço assassino entrando em sua barriga. Primeiro ele é gelado, e depois vai esquentando, até que sente suas vísceras queimarem.

Por sorte a perfuração não foi muito profunda, mas ele aguardou naquele local o resgate, que demorou três horas.

Três horas... Ele teve que passar ali, vendo o sangue de sua namorada se misturar ao de seus sogros... Não sabia se o pequeno cunhado estava vivo, pois seus ferimentos foram igualmente profundos e o deixaram, no mínimo desacordado.

De repente, Leandro sente seus membros ficarem fracos, a cabeça girando, os músculos, um a um, perderem a força. Estava morrendo...

Seis da manhã...

O despertador toca. Suado, Leandro acordou, acendeu seu cigarro, ligou o rádio e leu o jornal do dia anterior.

"Foi só um sonho..."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Alguém conhece?

cara... provavelmente todo mundo conhece... mas eu fico impressionado com a habilidade do Mistery Guitar Man...

cara, ele é muito bom, e é brasileiro...

enfim, não to muito afim de falar hoje, vejam um dos vídeos que ele fez... tem mais no canal dele no youtube...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Outro dos meus contos malucos.

Já não aguentava mais. Já fumara quase uma carteira de cigarros vagabundos e Paul não conseguia aceitar o que estava ouvindo.

Ela era tudo pra ele, desde que a viu pela primeira vez, foi tomado por um sentimento estranho: erauma vontade de cuidar, de ter sempre perto. Nunca se importou com o que ela fizera antes de conhecê-lo, mas quando sabia, por ela ou por outros, era como se uma faca acertasse o seu peito e a sua racionalidade. Sentia-se perdido, e por alguns segundos não entendia quando o seu amigo, sentado ao seu lado no bar, pedia que lhe servisse mais um copo de cerveja.

Aquela cena voltou a sua mente. Ele não era seu primeiro amor, já havia se deitado com outros antes - se eram muitos ou poucos, ele nunca quis saber, talvez a dúvida seja um anestésico para sua mente tão ocupada com outras coisas -, já sofrera, já fora muito feliz, já amara. Ele também não era inexperiente, mas na hora isso não importava. Machista ou não, era assim que ele encarava os fatos.

Quando o álcool já havia subido à cabeça, ela não se importava mais de falar, não media as palavras. Paul fingia achar engraçado, mas algo de muito ruim crescia dentro dele, algo que umas saídas do bar com o pretexto de tomar um ar fresco não conseguiam suprimir. Era como se uma praga, um vírus sem cura se espalhasse pelo seu corpo, penetrando em suas veias, impregnando suas vísceras com um veneno mortal.

Cavalheiro à moda antiga, Paul não tentou pagar na mesma moeda, falando sobre seus relacionamentos anteriores - que ele sabia que eram capazes de machucá-la muito mais do que os ferimentos que as histórias dela eram capazes de provocar nele -, tampouco esboçou alguma reação ou falou alguma coisa. Ficou ali, estático, como se apenas seu corpo estivesse presente naquele local, como se o suor escorrendo pelo seu rosto fosse apenas o peso da bebida aliada ao calor que fazia naquela noite de primavera.

A hora que ele mais aguardava chegava perto. Pagou a conta, saiu com sua mulher em direção ao metrô. O adiantado da hora e o fato de ser um domingo deixaram a estação central vazia, ótimo para que Paul pudesse reorganizar suas idéias. Depois de 20 minutos, estavam finalmente em seu apartamento.

"Meu amor, vou me deitar, acho que estou um pouco embriagada" - disse-lhe, com a voz suave que lhe lembrara os momentos felizes vividos há dois anos atrás, quando se conheceram.

"Ok, pode ir", respondeu friamente "Não estou me sentindo bem, vou sentar aqui e ler alguma coisa, daqui a pouco vou me deitar".

Foi o que fez. Sentou em sua velha poltrona reclinável herdada dos pais, colocou seu disco da Janis Joplin no aparelho de som e pegou um livro qualquer na estante. Era Sidney Sheldon, um de seus escritores favoritos. Mas, por algum motivo, as palavras pareciam estar escritas em outra língua, e a musica não soava tão bonita como já soara outrora. Era o ódio pelo que passara naquela noite, era seu orgulho ferido falando cada vez mais alto. E foi a necessidade de agir que o impulsionou. Com um movimento brusco, levantou-se, jogou o livro em cima da poltrona, desligou o som. A passos leves, caminhou em direção ao quarto, ela estava seminua, os seios se revelavam timidamente pelo lençol transparente.

"Um anjo", pensou.

Sentou-se na cama, pegou seu travesseiro e colocou sobre o rosto de sua amada. Sua agonia em busca de ar purificava-lhe a alma.

Os movimentos dela foram cessando, até pararem completamente. Paul tirou o travesseiro, viu que ela agora estava com seus olhos abertos. Com a ponta dos dedos, como quem faz uma carícia em um bebê, ele os fechou, deitou-se ao lado dela, deu-lhe um abraço forte, e logo em seguida se levantou. Colocou sua melhor roupa, pegou o velho cinto e passou em torno de seu pescoço. Antes de aceitar seu derradeiro destino, rabiscou qualquer coisa em uma folha de caderno. Subiu em uma das velhas cadeiras que tinha, amarrou a outra ponta do cinto no lustre. Saltou.

Nada mais fora dito, nada além do papel caído sobre o corpo de sua amada:

"Sem mais dor, sem mais ciúmes, nem brigas, meu amor. Enfim sós"

SEM MAIS DICAS CULTURAIS

Um povo que elege uma mulher que foi apoiada por Collor, o símbolo da putridão política nacional, não tem cultura....